O Respeito Pelas Muitas Fés

O artigo a seguir tem como objetivo sanar alguns conceitos da filosofia que pauta as práticas da Academia Brasileira de Astrologia Védica, princípios estes que utilizamos em atendimentos e na gradual construção de nossa literatura. Todos eles são interpretações de princípios que derivamos das principais Escrituras dos Vedas, que fazem parte de nossa construção como Instituição, sempre guiados pela autoridade da Lógica Racional.

O Princípio dos Muitos Caminhos

Quando Veda Vyasa, filho de Parashara, organizou os principais Puranas, ele se preocupou em incluir todos os diferentes mitos criacionais de diferentes deuses das gerações anteriores, mesmo que eles fossem aparentemente contraditórios entre si; esta foi uma sábia tentativa de incluir todos os seguidores de outras emanações de Deus, para que eles pudessem continuar afeiçoados aos seus próprios devas. A crença hindu é essencialmente inclusiva e não tem problema em aceitar os múltiplos caminhos da espiritualidade; e esta riqueza na forma de se relacionar com o Sagrado pode ser comprovada não apenas nos princípios do último Organizador dos Vedas, mas também pode ser vista no momento que Krishna, encarnação de Vishnu, não estabelece um Caminho Único no Bhagavad Gita, o Credo mais amplamente aceito do hinduísmo, mas elege três yogas (Karma, Jnana e Bhakti), que são formas diferente porém complementares de se concentrar a mente em Deus, alcançar a liberação e se unir novamente a Ele. Estes fatos nos dão uma pista de um princípio dos vedas: a tolerância às múltiplas formas de se cultuar a Deus.

 

Aqueles cuja inteligência é ofuscada pelos desejos do mundo material rendem-se a devas e prestam adoração através de determinadas regras e regulações que se conformam com suas próprias naturezas. Eu estou nos corações de todos como a Superalma. E logo que alguém deseje adorar a um deva, Eu fortifico a sua fé para que ele possa se devotar a essa deidade específica. Munido com esta fé, ele se empenha em adorar um semideus específico e realiza seus desejos. Mas na verdade, estes benefícios são concedidos apenas por MimBhagavad Gita, capítulo 7, 20-22.

Ao defendermos uma astrologia védica que não força ídolos, mas suporta de fato as muitas consciências e interpretações de Deus, que também não pode ser totalmente conhecido, mantemos um princípio dos Vedas, e isto se aplica, mesmo a deuses que tenham, no fim, uma origem estrangeira. Neste trecho do Gita, Krishna conta que a Verdade Absoluta (no sânscrito, Brahman), Aquele que possui todos os atributos, a Superalma, de fato é Una, mas que cada ser humano cria, dentro das suas próprias limitações e grau de evolução, justificado aos olhos de Deus pela sua fé, uma forma de se relacionar ao Sagrado, mas quem dá a fé e opera milagres é o Deus Uno. Desta forma, não há uma única pessoa que adore um deus e seja aperfeiçoado por ele que não seja agraciado por Deus de fato. Uma pessoa não pode ser moldada por um deus com quem ela não se afeiçoa e por quem a ele não atribui fé. A fé sincera, seja lá por quais meios, é o condicional dos milagres.

A Importância dos Mitos Hindus

Chandra e Rohini, um mito essencial para entender a exaltação da Lua e as 27 constelações.

Quanto maior a compreensão na mitologia do gigante panteão indiano, melhor será para alguém compreender os princípios contidos na Jyotisha, já que este modo de linguagem foi a escolhida pelos antigos praticantes para conter a forma das suas descobertas dentro dos Vedas e dos Puranas, e até mesmo dentro das escrituras clássicas de Astrologia que não poupam menção às suas divindades. Por outro lado, cremos que temos o papel de explicar ao leitor ocidental comum, que não teve nenhum contato prévio com a cultura indiana, não compreende o sistema de crenças, se assusta com palavras no sânscrito, não tem afinidade ou fé em deuses estrangeiros.

Se a exaltação de Mercúrio é Virgem e seus signos em Júpiter são considerados debilitação e signo inimigo, talvez uma linguagem sistematizada e calculada, seja afinal, o modo mais excelente de comunicação escrita e falada. Estas observações não são apenas nossas, que fomos educados dentro do cartesianismo aristotélico da cultura ocidental, mas das próprias escolas racionalistas da cultura indiana que deram origem na primeira tentativa de sistematização do hinduísmo nos Brahma Sutras.  Se a exaltação de Júpiter é Câncer, o bom professor se compadece gentilmente das necessidades dos seus alunos e tem como princípio a misericórdia em sua fala; e caso, algum outro autor dentro de sua própria cultura for capaz de ilustrar melhor, não poderíamos por mero fundamentalismo impor algo que não falasse diretamente com o coração do aluno e consulentes.

O Intelecto de Brahman

Pela boca de Krishna, Brahman diz: “Eu sou o Intelecto”. É bastante estranho achar que Deus, sendo Sustentador do mundo, Mantenedor de todos os seres, de Onde procede todas as coisas, não tenha legado sabedoria e revelação a outros homens de outras culturas, como mesmo os estudantes de religiões comparadas claramente afirmam verificar; e mesmo um leitor iniciante, com alguma bagagem nas grandes religiões, consegue perceber diversas similaridades e repetição de mesmos princípios.

A própria astrologia védica é fruto do contato destes povos com sábios da Babilônia, da Grécia e do mundo árabe; um país que fecha todas as suas fronteiras e restringe muito suas relações, provavelmente viverá em ditadura, terá fome e morte por inanição; assim também é o homem que rejeita as ideias por sua origem (falácia genética).

É simplesmente inquestionável a sabedoria de pessoas como Isaac Newton, Albert Einstein, Jesus Cristo, Freud e Leonardo Da Vinci. Se estes homens têm notável intelecto, e de Brahman tudo procede, esta característica não poderia ser notada nestes homens apenas porque não são hindus, todos estes ícones são contas no colar de Krishna, pelo qual o fio de Brahman perpassa; independente de serem estrangeiros ou terem consciência disto. Desta forma, não se trata apenas do conhecimento acumulado por um povo específico, mas de toda a Humanidade e de cada pessoa, que em seu respectivo grau de evolução, adora o seu próprio Deus, segundo seus próprios modos, e será aperfeiçoado e abençoado de toda forma pelo Deus Uno.

2018-12-21T15:32:02+00:00

About the Author:

André Kërr é co-fundador da Academia Brasileira de Astrologia Védica e escritor best-seller na sessão “Espiritualidade” da Amazon Brasil. Ele é astrólogo védico, engenheiro de software, tradutor de livros clássicos e modernos da jyotisha, pesquisador da cultura indiana e desenvolve novas tecnologias para auxiliar a comunidade brasileira. Conhecedor das astrologias de Parashara, Jaimini, Brighu Nadi e KP.
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