Maa Tara, também chamada de Tarini ou Neela Saraswati, é a segunda das Dez Faces Da Deusa Mãe (Dasa Mahavidya) do tantra shakta, correspondente ao planeta Júpiter. Ela deve ser adorada por aqueles que possuem severa aflição de Júpiter, como a debilitação (Capricórnio) como forma de retificação planetária.
Índice
Iconografia
Ela é descrita como uma divindade de forma furiosa (ugra), que segura uma faca, uma espada e o lótus, com um único trançado sobre sua cabeça. Sua iconografia representa a Deusa com uma pele azul escura, é alta, com uma barriga proeminente, veste peles de tigre, um colar de caveiras está sobre sua cabeça, usando uma guirlanda de caveiras como um longo colar, ela posiciona o pé esquerdo sobre o peito de um cadáver e o pé direito entre as coxas de um cadáver. Ela está sempre sorrindo e feliz em contentamento.
Benefício
A adoração à Tara revoga os maus efeitos da debilitação de Júpiter, pode levar à emancipação espiritual, melhora rapidez das sinapses e a memória, torna o homem erudito e de boa dicção, traz a reconciliação do guru, melhora da vida conjugal, mune o devoto de uma aura de proteção, desfaz as maldições dos brâmanes e gurus, traz honra e riqueza, melhora de doenças hepáticas e digestivas, leva a aceitação entre os sábios e eruditos, e realiza a limpeza espiritual de forças malignas.
A Aparição de Tara
Quando O Oceano de Leite rugia sob o esforço sobre-humano dos deuses e dos demônios que buscavam o néctar da imortalidade (amrta), uma terrível ameaça vinda das profundezas do oceano assaltou a todos de surpresa. Um veneno terrível e esfumaçado, de cor azulada e aspecto sombrio, começou a se espalhar e intoxicar o mundo, ameaçando a vida de tudo o que havia sido criado. Ninguém estava a salvo, nem mesmo os deuses.
O Senhor Shiva, com sua compaixão inigualável, não hesitou. Ele se adiantou e, com destemor, escancarou sua boca como se pudesse engolir o mundo inteiro. Aos poucos, a visão se tornou aterrorizante, pois sua garganta começou a ficar em um tom mórbido de azul como o crepúsculo, no fim, todos estavam a salvo, mas o Deus cambaleava sob o peso do veneno ardente.
No entanto, mesmo o Supremo Senhor Shiva sentiu a pesada angústia e a dor inigualável da intoxicação. Ele não poderia morrer, mas estava prostrado, perdendo a força e à beira do colapso. Foi nesse momento de desespero que a Deusa Parvati, sua consorte divina e a fonte de seu poder supremo, não pôde mais suportar o sofrimento de seu amado.
Num ato de pura devoção e amor, a Mãe Divina se transformou em Maa Tara, e correu para o lado de Shiva e o amamentou com as gotas do néctar de seus seios de um leite tão puro que foi capaz de neutralizar o veneno. Com um suspiro de alívio, Shiva ergueu-se são, mas como uma cicatriz, a garganta se manteve azulada. É por isso que os hindus dizem até hoje que Shiva sem Shakti (sua esposa) seria “shava”, um mero cadáver.
O Sábio
No capítulo XVII do Rudrayamala e na primeira Patala do Brahmayamala, temos uma outra história que conta como o culto a Maa Tara começou na Índia.
Muito tempo após a epopeia do Oceano de Leite e a ascensão da humanidade no domínio da Terra com o auxílio dos deuses, o sábio Vasishta, uma das sete estrelas que descansam na constelação dos Saptarishis (Ursa Maior), continuava a perambular pelo vasto subcontinente indiano em carne e osso. Consciente do colossal poder e da transcendente sabedoria que repousavam na divina Deusa Mãe, aquela cuja intervenção havia resgatado o próprio Deus Supremo deste plano, Vasishta nutria em seu coração um desejo ardente e inextinguível: desvendar os intricados segredos das práticas que conquistariam a benevolência da Divina.
Erguendo sua voz ao firmamento, Vasishta dirigiu-se ao seu pai divino, o Senhor Brahma, o primeiro Guru da Trindade Divina, e suplicou que lhe revelasse as sendas ocultas que conduziriam ao favor da Deusa.
Após uma disciplina rigorosa que se estendeu por seis mil anos, entoando o mantra sagrado conferido pelo Criador, Vasishta finalmente abriu os olhos de seu estado meditativo, seu coração albergando uma ira que parecia prestes a desferir maldições sobre todos os presentes. O mantra aparentemente não havia concedido o poder prometido. A sua frustração fervilhava quando ele procurou Brahma e compartilhou seu infortúnio.
A resposta do Senhor Brahma, entretanto, foi um eco de divina paciência e sabedoria: “Meu filho, consagre-se a adorá-la mais uma vez, com a totalidade de seu ser, até que ela se revele. Ela é a Suprema Shakti, aquela que resgata de todas as adversidades. Brilha mais intensamente que dez milhões de sóis e, no entanto, sua pele é da tonalidade mais profunda de azul, tão refrescante quanto dez milhões de luas. Ela é a consorte do Tempo, o primórdio de todas as coisas. Nela não há dicotomia de Dharma ou Adharma; ela é aquela que nos guia através do oceano infindável do Samsara. É a personificação do intelecto e do Atharva Veda. Não amaldiçoe o mantra, meu filho. Tenta mais uma vez, com devoção imaculada, mantendo-a constantemente em tua mente.”
Consoante às palavras de Brahma, Vasishta imergiu-se novamente na prática, agora durante mil anos, seguindo as instruções do Criador. Contudo, ao fim desse período, quando se preparava para lançar uma maldição sobre a Deusa pela segunda vez, um desígnio superior interveio. A Rainha das Montanhas, a própria Deusa, manifestou-se diante do sábio com um advertência solene.
Ela instruiu Vasishta a empreender uma jornada até onde Vishnu, o Supremo, havia se encarnado como Buddha, o Iluminado, para receber a iniciação que almejava. “Sem os ensinamentos do método tântrico de Cinacara (China ou Tibet), não terá como agradar meu coração divino. Procure o Iluminado e aprenda com ele os caminhos da minha adoração.”
Vashishtha acatou o chamado da Deusa e partiu em busca do Buddha, cuja presença estava oculta num país distante, onde a beleza das mulheres embriagadas pelo vinho e adornadas com fascínio inspirava o desejo. Vendo o Buddha imerso num estado extático e embriagado de profunda transcendência, Vasishta ficou profundamente perplexo. Em sua ousadia, repreendeu-o: “Poderia este ser o próprio Senhor Vishnu encarnado? Não posso aprovar estas práticas, que parecem contradizer os Vedas.”
Contudo, uma voz divina, no auge do momento, respondeu-lhe: “Este devoto alcançou resultados extraordinários em sua sadhana dedicada à Deusa Tara. Ela não pode ser agradada de outra maneira. Se deseja conquistar rapidamente a sua graça, deves adorá-la de acordo com as cerimônias tântricas do Cinacara.”
Buddha, com a sabedoria que transcende o tempo, explicou a Vashishtha os mistérios dos Panchamakaras, os cinco elementos essenciais do tantra. Ele continuou a revelar que, através dessas práticas, nenhuma alma mais seria lançada no oceano infinito do ciclo de nascimentos e mortes. Vashishtha foi ensinado sobre a importância da devoção mental, a compreensão de que nada é intrinsecamente impuro, e a reverência a todas as mulheres como a verdadeira expressão da adoração à Deusa.
Seguindo os conselhos do Buddha, Vashishta continuou sua busca pela iluminação. Finalmente, após repetir seu mantra um total de 300.000 vezes, alcançou a libertação suprema em solo sagrado de um crematório na Bengala Ocidental. Foi nesse momento que testemunhou a imagem da Deusa Mãe amamentando o Senhor Shiva, uma visão que se cristalizou numa estátua de pedra, dando início ao templo sagrado de Tara, Tarapith.