Nakshatras

 

O Que São Os Nakshatras?

Além dos 12 signos tradicionais que a maioria de nós conhecemos, temos também mais outras 27 constelações que se encontram “atrás” dos signos tradicionais, os quais chamamos de nakshatras ou asterismos. A primeira forma de astrologia védica a surgir na Antiguidade da Índia era totalmente baseada neste sistema, que foi copiado por diversos povos, incluindo árabes, chineses, tibetanos e até mesmo os celtas.

Mais tarde, através do intercâmbio da cultura grega helenística com o sistema védico de astrologia, vemos o surgimento dos signos gregos nas descrições astrológicas hindus, através de tratados como o Yavana Jataka. Os asterismos refinam ainda mais as características dos signos, pois mostram a existência de nuances das características existentes dentro de cada uma das 3 partes de 13º20 que existem dentro de cada um deles. Alguns nakshatras também emprestam os seus nomes ao meses do calendário hindu, o Panchang.

 

Por exemplo, o signo de Peixes (30º), possui os nakshatras de Purvabhadrapada, Uttarabhadrapada e Revati (13º20 cada, porém alguns nakshatras compartilham dois signos ao mesmo tempo, como é o caso de Purvabhadrapada que tem o seu início no signo de Aquário). O primeiro deles é fascinado por raios, eletricidade, até mesmo temas mórbidos e anatômicos; já o segundo é sério, intelectual, isolado e possui grande genialidade; o último, é artístico, defensor dos animais, metido em causas sociais, que se sacrifica pelo outro. Ambos são piscianos, possuindo uma essência comum, mas existem nuances entre eles. Tais características são derivadas do planeta que o rege e das divindades que moram nesta porção do céu.

Assim como os signos possuem seus planetas regentes, de quem são expressões, todos os nakshatras também são regidos por planetas diferentes do signo onde eles estão localizados. Estes planetas influenciam suas características, até mesmo físicas, mas também são utilizados para previsões de acontecimentos no Vimshottari Dasha, que é um sistema de previsão de eventos totalmente baseado em nakshatras.

Na Antiguidade, não havia a mesma concepção secularizada de cálculos astronômicos que possuímos hoje, vistas pelas lentes cientificistas do Ocidente. Quando os antigos sábios olhavam os céus viam nas estrelas seus deuses e demônios, que através de suas influências teriam o poder de abençoar e amaldiçoar. O céu era mais uma das formas de investigação dos mistérios da vida, eram as pistas da Natureza Superior que nos rege, eram nas estrelas onde residiam os deuses. Isto deu a cada um dos nakshatras uma divindade associada a eles e também o nome de “mansões lunares”, as mansões onde residem os deuses. Sendo cada uma destas deidades, a fonte de poder e capacidade (shakti) daquela porção do céu.

Todos os planetas do mapa Rasi possuem um nakshatra, mas o mais importante deles é o que se encontra na Lua (o janma nakshatra), da mesma maneira que os ocidentais perguntam o signo solar um dos outros quando estão se conhecendo, na Índia, se pergunta qual o nakshatra da Lua. Mesmo assim, algumas técnicas podem utilizar os asterismos de outros planetas, como o caso do Vimshottari Dasha.

Não há um consenso sobre a existência ou não de nakshatras nos demais mapas divisionais, geralmente esta é uma área de muita especulação na modernidade, já que poucos autores clássicos tratam sobre o assunto de asterismos em um contexto de Jataka, e os que tratam dão descrições bastante sucintas, enquanto os modernos apresentam inovações constantes e nem sempre seguindo uma metodologia satisfatória e segura.

Na mitologia hindu, todas as 27 Nakshatras são filhas do rei Daksha, um rei divino e um dos Prajapatis, agentes da criação. Ele é um dos Manasaputras, um filho nascido da mente de Brahma§. Todas elas são casadas com o semideus lunar Chandra, passando aproximadamente um dia em cada constelação. Assim, cada mês lunar possui aproximadamente 27 dias, que é igual ao número de Nakshatras.

Etimologia da Palavra

O primeiro significado historicamente empregado a “Nakshatra” é “meio de adoração”§. Já o segundo significado mais tardio seria “aquilo que não pode ser destruído”, mas também encontramos “mapa de estrelas” ou “regiões do céu” como sendo uma das traduções possíveis§.

Na concepção do Yajur Veda, os nakshatras eram muito mais aplicados a astrologia ritual eletiva (muhurta), e possuíam uma grande importância para se obter os resultados que queríamos ao realizar uma determinada prática espiritual:

“Se há uma pessoa ama as riquezas e quer que as pessoas doem a ela, então ela deve venerar Agni sob a estrela de Phalguni, pois nela está Aryaman que dá a todos com caridade e é um Ser Sagrado.” –  Taittiriya Brahmana 1.1.2.4.

Lista Dos Nakshatras

As listas de nakshatras são encontradas no Yajur Veda (Taittiriya Samhita IV.4.10) e no Atharva Veda (XIX.7), sendo eles: Aswini, Krittika, Rohini, Mrigashira, Ardra, Punarvasu, Pushya, Ashlesha, Magha, Purva Phalguni, Uttara Phalguni, Hasta, Chitra, Swati, Vishakha, Anuradha, Jyeshta, Moola, Purvashada, Uttarashada, Shravana, Dhanistha, Shatabishak, Purva Bhadrapada, Uttara Bhadrapada e Revati. Os documentos antigos consideram Krittika como o primeiro nakshatra, mas em escrituras mais recentes este papel é atribuído Aswini, o domador de cavalos, como diz os Vedas: “Os deuses decoraram os céus com as constelações, como um cavalo negro com pérolas” (Rig Veda X.68.11) e também “O alvorecer é a cabeça do cavalo sacrificado, os céus são seus olhos, o ano é a sua alma, sua forma são os nakshatras e as estrelas são seus ossos” (Taittiriya Samhita VII.5.25).

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As Sete Classificações dos Nakshatras

Na astrologia eletiva, que estuda os períodos propícios para o início de certas atividades através do trânsito astrológico atual, tradicionalmente, alguns trânsitos da Lua em determinados nakshatras são favoráveis para realizar atividades compatíveis com a natureza deste, tanto no aspecto mundano como nas práticas espirituais.

Móveis (Chara): São os auspiciosos para atividades que possuem movimento, tais como a compra de veículos, jardinagem, caminhar em uma procissão, etc. Shravana, Dhanishta, Satabhishak, Punarvasu e Swati  são deste tipo.

Fixos (Sthira):  São mais auspiciosas para atividades que requerem fixação, como coroações, fundações de cidades, plantação, etc. Rohini, Uttara Phalguni, Uttarashadha e Uttara bhadrapada são do tipo fixo.

Suaves (Mrdu): Eles são favoráveis para atividades que requerem certa delicadeza, como aprender a dançar, cantar, fazer sexo, performar cerimônias auspiciosas. Chitra, Anuradha, Mrigashira e Revati são de tipo suave.

Violentos (Ugra): Estas constelações são mais auspiciosas para atividades de destruição, violência, confrontar inimigos, demolir e incendiar. Bharani, Magha, Purva Phalguni, Purvashadha e Purva bhadrapada são do tipo violento.

Ácidos (Tikshna): Estes são favoráveis para todas as atividades como encantos, invocação de espíritos, prisão, homicídio e separação de pessoas. Moola, Jyeshta, Ardra e Ashlesha são asterismos do tipo ácido.

Velozes (Kshipra): Os asterismos velozes são positivos para quaisquer atividades que envolvam velocidade ou que precisem ser rápidos, como esportes, vacinas, dar início a indústrias, viagens, setor de transportes, etc. Ashwini, Pushya e Hasta são constelações deste tipo.

Mistos (Mishra): Estes asterismos são auspiciosos para todos os tipos de atividades, especialmente fazer rituais de fogo, adorar uma divindade, comprar móveis e eletrônicos. Krittika e Vishakha são constelações mistas.

Descrições Clássicas

Existem poucas menções nos clássicos sobre o uso de nakshatras na astrologia natal e as que existem são bastante sucintas e podem não fornecer tantos dados relevantes à crítica mais acostumada com descrições detalhadas, porém, podemos destacar o esforço e o pioneirismo do astrólogo medievalista Varaha Mihira mais uma vez, em seu tratado Brihat Jataka, A Grande Obra, no capítulo 16, que cita todas as características da Lua nos nakshatras para o mapa astral védico de nascimento (Jataka), de acordo com o seu entendimento na época. Esta é apenas uma menção honrosa a um importante autor, pois estas descrições são ainda rudimentares e na opinião de astrólogos modernos, também imprecisa, o que torna muito importante o trabalho de astrólogos védicos como Claire Nakti e do Dr. Arjun Pai, que fazem um trabalho criterioso de pesquisa. Segue o trecho:

“O nativo nascido quando a Lua passa pelo asterismo de Aswini vai gostar de ornamentos, terá boa aparência, será popular, habilidosa no trabalho e inteligente.
O nativo […] de Bharani terá sucesso no trabalho, verdadeira, livre de doenças, capaz e livre de pesar.
O nativo […] de Krittika será um glutão, afeiçoado às esposas de outros homens, de aparência brilhante e de ampla fama.
O nativo […] de Rohini será verdadeira, não cobiçará a propriedade de outros homens, será de hábitos limpos, de fala doce, de visões firmes e de boa aparência.
O nativo […] de Mrigashira não terá princípios firmes, será capaz, tímida, de boa fala, de hábitos ativos, rica e se entregará a prazeres sexuais.
O nativo […] de Ardra será insincera, de temperamento irascível, ingrata, se entregará a tortura e será viciada em atos perversos.
O nativo […] de Punarvasu será devota e de hábitos pacientes, viverá em conforto, será bem-humorada, quieta, com visões erradas, doentias, sedenta e satisfeita com ninharias.
O nativo […] de Pushya terá um controle sobre seus desejos, será geralmente apreciada, instruída nos Shastras, rica e será apreciada por atos de caridade.
O nativo […] de Ashlesha não estará atenta ao trabalho de outros homens, será um comedor promíscuo, será pecadora, ingrata e hábil em enganar outros homens.
O nativo […] de Magha terá numerosos servos, será muito rica, viverá em conforto, adorará os Devas e os Pitris e estará envolvida em obras importantes.
O nativo […] de Purva Phalguni será de fala doce, será liberal em seus dons, de boa aparência, de hábitos errantes e servirá sob os reis.
O nativo […] de Uttara Phalguni será geralmente apreciada, ganhará dinheiro com seu aprendizado e viverá em conforto.
O nativo […] de Hasta será de hábitos ativos, cheios de recursos, desavergonhados, impiedosos, ladrões e bêbados.
O nativo […] de Chitra usará panos e flores de várias cores e terá belos olhos e membros.
O nativo […] de Swati será de natureza branda e tranquila, controlará sua paixão, será habilidosa no comércio, será misericordiosa, [incapaz de suportar a sede], doce e disposta a fazer atos de caridade.
O nativo […] de Vishakha ficará com ciúmes da prosperidade de outra pessoa, será um avarento, de aparência brilhante, de fala distinta, hábil em ganhar dinheiro e disposta a provocar desavenças entre os homens.
O nativo […] de Anuradha será rico, viverá em terras estrangeiras, será incapaz de suportar a fome e estará disposta a vagar de um lugar para outro.
O nativo […] de Jyeshta terá poucos amigos, será muito alegre, virtuosa e de temperamento irascível.
O nativo […] de Moola será arrogante, rica, feliz, não disposta a ferir outros homens, a ter uma visão firme e a viver no luxo.
O nativo […] de Purvashada terá uma esposa agradável, orgulhosa e apegada a amigos.
O nativo […] de Uttara Ashadha será obediente, será instruída nas regras da virtude, possuirá muitos amigos, será grata, retornará favores recebidos e será geralmente apreciada.
O nativo […] de Shravana será próspera e instruída, terá uma esposa liberal, será rica e de fama generalizada.
O nativo […] de Dhanishta será liberal, rica, valente, apreciadora de música e será mesquinha.
O nativo […] de Satabhishak será dura em seu discurso, será verdadeira, sofrerá pesar, conquistará seus inimigos, entrará sem pensar no trabalho e será independente.
O nativo […] de Purva Bhadrapada sofrerá de pesar, colocará sua riqueza à disposição de sua esposa, será de fala distinta [ou será habilidoso em ganhar dinheiro] e será um avarento.
O nativo […] de Uttara Bhadrapada será um orador capaz de ser feliz, possuir filhos e netos, conquistar seus inimigos e será virtuoso.
O nativo […] de Revati possuirá membros perfeitos, será apreciada por todas as pessoas, valente em luta, nunca cobiçará a propriedade de outros homens e será rica.”

 

⚠️ O trecho acima pertence a obra A Arte E A Ciência Da Astrologia Védica cedido pelo autor, logo sua cópia ou a distribuição não-autorizada parcial ou total desta obra é proibida e passível de punição segundo a Lei de Direitos Autorais nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998. Todos os direitos são reservados ao autor e aos autores participantes. A pena para o descumprimento é de 2 a 4 anos de prisão e multa. Não copie, apoie nosso conteúdo gratuito, referencie através de citações e distribua o link deste artigo.

 

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2023-02-08T13:54:59+00:00

About the Author:

André Kërr é co-fundador da Academia Brasileira de Astrologia Védica e escritor best-seller na sessão “Espiritualidade” da Amazon Brasil. Ele é astrólogo védico, engenheiro de software, tradutor de livros clássicos e modernos da jyotisha, pesquisador da cultura indiana e desenvolve novas tecnologias para auxiliar a comunidade brasileira. Conhecedor das astrologias de Parashara, Jaimini, Brighu Nadi e KP.
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