A astrologia védica faz parte do Sanatana Dharma (hinduísmo) e, portanto, não pode ser categorizada ou percebida como uma mera terapia holística ou mero oráculo, ela é “Os Olhos Dos Vedas“, a visão dos sábios védicos que alcançaram a iluminação, uniram-se novamente ao Divino, revelaram as escrituras sagradas ouvidas diretamente de Deus e desejam compartilhar essa visão à classe sacerdotal (brâmanes), seus mensageiros e guardiões de suas palavras, para que eles possam transmitir de forma correta a interpretação sobre uma situação ou pessoa.
Este vedanga foi primeiro revelado à humanidade pelo Deus Criador, Brahma, o Guru Supremo, que ensinou aos sábios Bhrigu e Parashara desde tempos imemoriais; depois disso, ela se desenvolveu e se atualizou conforme as eras, segundo os princípios do método científico védico do Maharishi Gautama, guru de Bhrigu. O ancião Garga, o revelador dos mapas divisionais (vargas), conhecido por toda a Ásia e que influenciou a astrologia praticada na China, Nepal e Tibet, alcançou seu vasto conhecimento por meio de austeridades dirigidas à Serpente Da Eternidade, Shesha — o leito cósmico sobre o qual repousa o Senhor Vishnu, de cujos sonhos emanam todos os mundos.
Trata-se de um conhecimento iniciático transmitido por sucessão discipular, exigindo uma formação de longa duração, que se estende por anos, semelhante a uma faculdade, e não um curso de fim de semana. A mera leitura de textos disponibilizados online não fazem um astrólogo védico profissional, pois há uma grande parte da tradição que é oral, e há a necessidade de concatenar este conhecimento com as demais disciplinas védicas (yoga, ayurveda, vedanta, vastu, dentre outras). Astrólogos védicos geralmente se iniciam em uma escola tradicional pertencente a uma linhagem e, muitas vezes, possuem certificações nacionais ou internacionais que atestam sua habilidade e expertise.
Uma pessoa que se dedicou a um curso extenso, esforçando-se por anos a fio no estudo da escrituras, viajou para lugares longínquos como a Índia, Nepal e Tibet, gastou recursos em diversos cursos com profissionais ao redor do Brasil e do mundo, realizando pesquisas para adequar o conhecimento à sua cultura ocidental e dedicando-se a prática diária, é merecedora de sua remuneração, assim como qualquer outra profissão honesta. Astrólogos védicos precisam pagar suas casas, alimentar-se, hidratar-se, vestir-se, adquirir itens de higiene, realizar cerimônias e sustentar seus filhos.
Logo, preços tão baixos não são compatíveis nem com a dificuldade de sua formação, nem mesmo as necessidades de sua subsistência. Da mesma forma que é inadmissível pagar pouco a um médico ou a um engenheiro, que possuem conhecimentos de alta complexidade, pois isto poderá comprometer a qualidade final do serviço, é estranho pagar tão pouco em um mapa astrológico.
O mapa védico verdadeiro não é apenas uma ferramenta de autoconhecimento; ele pode prevenir acidentes, orientar decisões futuras, auxiliar na escolha de bons relacionamentos, trazer respostas verdadeiras e diretas, desmanchar padrões inconscientes persistentes (samskaras), decidir o melhor momento para ter filhos e abrir os olhos para a espiritualidade védica, o maior de todos os tesouros.
Uma consulta de astrologia védica, quando recebida com atenção e por verdadeiros buscadores de coração aberto, pode ser um momento precioso que definirá os rumos dos próximos anos de uma vida.
As escrituras védicas dizem o seguinte a respeito de tal prática:
असत्प्रतिगृहिता तु नरके यात्यधोमुखे |
अयाज्ययाचकश्चैव तथानक्षत्रसूचकः ||“Aquele que recebe oferta de forma imprópria, sem realizar as cerimônias prescritas, os que guiam através da astrologia sem verdadeiro conhecimento, cairão no inferno de Adhomukha” – Vishnu Purana, Livro 2, Capítulo 6, Verso 21
Parashara, o grande astrólogo védico, o mesmo que escreveu o Brihat Parashara Hora Shastra, afirma que este ato é passível de condenação nos infernos após a morte, e tais pessoas devem parar suas práticas contrárias ao Dharma, buscando se formar em instituições de forma apropriada para poderem exercer a profissão devidamente, após aprovação formal de seu professor.
As escrituras afirmam que Adhomukha é um inferno, uma dimensão de maior sofrimento, onde as almas renascem de cabeça para baixo e passam por intensos sofrimentos até retornarem à Terra para um novo nascimento. Esse tormento é desnecessário e pode ser evitado se o estudante buscar o conhecimento pelos meios tradicionais. Na tradição védica, nenhum inferno é eterno, pois Deus, sendo compassivo e misericordioso, deseja que todos os seres alcancem a salvação e retornem ao êxtase da Sua presença.
O dinheiro obtido com este pecado não permanecerá, não se tornará prosperidade e a vida da pessoa ficará bloqueada com o passar do tempo, a não ser que arrependido, doe esta fortuna aos pobres, aos templos hindus e as escolas de astrologia.
Ler e assistir um vídeo aqui e ali na internet é uma boa maneira de começar a compreender a Jyotisha, mas é insuficiente para exercê-la de forma profissional no longo prazo, quem deseja exercê-la deve aprender aos pés de um mestre versado e refugiar-se nele.
Algumas pessoas, movidas pelo desejo de dinheiro rápido e influenciadas pelos valores da era de Kali, exercem profissionalmente sem ter o conhecimento real, e o público ocidental, desacostumado, acaba não sabendo discernir entre um mapa profissional e um mapa copia-e-cola, confundindo gato com lebre, e imaginando que o melhor que há disponível no mundo é um dos piores. No entanto, nenhum mapa feito exclusivamente por inteligência artificial, repleto de Efeito Forer e definições incorretas, será tão preciso quanto um mapa astrológico elaborado por alguém que de fato acumulou conhecimento para isso.
O Efeito Forer, citado acima, foi descoberto em 1948 pelo psicólogo Bertram R. Forer, que deu a cada um de seus alunos um teste de personalidade, dizendo ser uma análise única e individual baseada nos resultados dos testes, e que deveriam avaliar a precisão da análise. Na verdade, todos os alunos receberam o mesmo texto e mesmo assim classificaram a fraude com uma nota alta, quando essas frases podem se aplicar igualmente a qualquer pessoa, pois se trata de descrever a natureza humana:
“Você tem uma necessidade de ser querido e admirado por outros, e mesmo assim você faz críticas a si mesmo. Você possui certas fraquezas de personalidade mas, no geral, consegue compensá-las. Você tem uma capacidade não utilizada que ainda não a tomou em seu favor. Disciplinado e com auto-controle, você tende a se preocupar e ser inseguro por dentro. Às vezes tem dúvidas se tomou a decisão certa ou se fez a coisa certa. Você prefere certas mudanças e variedade, e fica insatisfeito com restrições e limitações. Você tem orgulho por ser um pensador independente, e não aceita as opiniões dos outros sem uma comprovação satisfatória. Mas você descobriu que é melhor não ser tão franco ao falar de si para os outros. Você é extrovertido e sociável, mas há momentos em que você é introvertido e reservado. Por fim, algumas de suas aspirações tendem a fugir da realidade.”
A Jyotisha, praticada há pelo menos 6.000 anos, distancia-se desse tipo de linguagem fraudulenta e revela o verdadeiro eu, transcendendo o véu do falso ego. No entanto, também o identifica, assim como seus padrões, para que, desse modo, possa conduzir o buscador ao mais elevado nível de autoconhecimento:
“Um astrólogo versado não apenas evita o inferno, mas também alcança a salvação. O brâmane que se torna um mestre nestes textos e nesta ciência deve ser honrado e alimentado nos ritos ancestrais, pois ele é o purificador das refeições. Até mesmo aqueles que são não-hindus (mlecchas) e os de origem grega (yavana) e que estudam esta ciência devem ser respeitados como Rishis. Neste caso, se o astrólogo é um brâmane, quem pode negar-lhe o respeito que lhe é devido?” – Brihat Samhita, capítulo 2, versos 13-15.
O autodidata, que tem facilidade por causa de conhecimentos obtidos em vidas anteriores, deve buscar se refugiar em um guru versado em algum momento de sua jornada, ainda que ele não tenha iniciado dessa forma, para que tenha acesso à tradição oral, esvazie-se de falsos conhecimentos, assimile a cultura, obtenha as iniciações devidas, receba a autorização e bênçãos de seu mestre, que não podem ser obtidas sem uma linhagem.
As escrituras da Jyotisha, como o Prashna Marga, encorajam que o trabalho do astrólogo védico seja remunerado de acordo:
“O consulente deve se aproximar de um astrólogo conhecedor da ciência, de disposição agradável, pela manhã, doando frutas, flores e dinheiro, posicionando-se com a face virada para o leste, e após prestar homenagens a ele, deve-se fazer uma pergunta auspiciosa.”
O leste é o local onde nasce o Sol. Surya sempre é visto de forma majestosa nos tratados de Astrologia do passado, sendo a deidade mais celebrada pelos astrólogos da Antiguidade e o planeta principal. Ele rege autoridades e reis, portanto esta inscrição denota a necessidade de um imenso respeito pelo praticante a fim de que a consulta seja bem-sucedida. Devemos lembrar que o leste é o local onde são colocadas as imagens de muitos semideuses hindus.
O astrólogo védico, no momento que está praticando a jyotisha, se torna um mensageiro da Superalma. Ele rompe o véu de separação existente entre a vida cotidiana e o real motivo da sua encarnação; em um lugar onde o passado, presente e futuro se encontram, que por natureza somente o Divino, livre das falsas identificações, habita.
A “disposição agradável” citada no texto é uma característica contida nos hinos védicos dos planetas Júpiter e Vênus. Ambos são gurus nesta tradição. Esta combinação sugere que o astrólogo deve possuir sabedoria espiritual, não somente um conhecimento técnico, que planetas com disposições desagradáveis também podem dar.
O costume de dar presentes ao convidado ilustre é muito antigo em todas as civilizações. Nada impede que esta prática ainda exista, porém, independente de presenteá-lo, a consulta realizada por um profissional já formado deve ser paga. Esta demonstração é chamada na tradição de “dakshina” e é dada a todos os mestres que o auxiliaram em sua formação e progresso espiritual. Quando alguém presenteia algo de grande valor, ela se torna sua devedora, transformando esse ato em dívida kármica, já que haverá um desbalanço de mérito entre as duas partes e, como vimos, uma consulta tradicional de jyotisha é extremamente transformadora.
Caso o astrólogo védico queira fazer caridade de forma sátvica, que nos aperfeiçoa e nos faz ver Deus em tudo e em todos, como uma oferta dedicada a ele, ou ainda, caso precise queimar seus karmas e fortalecer seus planetas como uma medida corretiva, deve oferecer segundo as escrituras prescrevem:
“A caridade deve ser dada sem pedir nada em troca, no local e hora apropriados e dada a alguém digno, está na guna sáttvico (modo bondade).” – Bhagavad Gita 17:20
Na literatura védica, recomenda-se a prática da caridade, porém não de forma indiscriminada. Por isso, é aconselhado oferecer caridade em locais de peregrinação, como templos ou ashrams, durante eclipses, no final do mês, a um brâmane qualificado, a um devoto ou aos templos, sem esperar qualquer recompensa. Se a intenção é fortalecer um planeta como Júpiter ou Vênus, deve ser feito em seu dia da semana (vara). A caridade aos pobres deve ser feita por compaixão, mas, se a pessoa é relutante em trabalhar, apesar de possuir saúde para isso, e permanece nessa condição devido a maus hábitos e ações passadas, após já ter sido advertida, não se deve oferecer auxílio. A doação deve ser feita com a mentalidade de estar oferecendo ao próprio Deus, sem expectativa de retorno, pois assim nos tornamos semelhantes a Ele, que é generoso e justo com todos.