Este artigo tem como objetivo simplificar um tema considerado controverso, mas essencial à medida que a astrologia védica ganha popularidade no Brasil. A controvérsia em questão diz respeito a uma das maiores diferenças entre as astrologias védica e ocidental, a precessão dos equinócios e o ayanamsha.
Se você está confuso com o uso de diferentes cálculos de posições dos planetas usados por astrólogos védicos ou é estudante de astrologia védica, este artigo é recomendado para você. Este é um artigo completo, com as devidas referências e bastante honestidade sobre o tema, o que é difícil de fazer em um texto curto, logo este é um texto mais longo e que não repetirá apenas mais do mesmo.
Índice
Zodíaco Tropical e Sideral
Todos nós já conhecemos os doze signos do zodíaco: Áries, Touro, Gêmeos, Câncer, Leão, Virgem, Libra, Escorpião Sagitário, Capricórnio, Aquário e Peixes, porém, a astrologia ocidental (tanto a tradicional e moderna) utiliza em maior parte o chamado “zodíaco tropical” (Sayana); já a astrologia védica utiliza o “zodíaco sideral” (Nirayana), que considera o movimento da precessão dos equinócios, sendo mais próximo à verdadeira posição dos astros no céu astronômico.
Desta forma, na astrologia védica, os planetas geralmente passam a estar em outros signos e casas em relação às posições da astrologia ocidental. Houveram grandes astrólogos ocidentais que também foram sideralistas, desta lista destaca-se o trabalho de Cyril Fagan e Donald A. Bradley, os pais da astrologia sideral aqui no Ocidente.
O Que É Zodíaco Tropical?
O zodíaco tropical é uma divisão imaginária do céu em 12 partes iguais, cada uma representando um signo astrológico de 30º. Essa divisão é baseada na posição do Sol em relação à Terra ao longo do ano na eclíptica. O ponto de partida do zodíaco tropical é o equinócio da primavera no hemisfério norte, geralmente a 0º de Áries (embora tenha existido na História quem estabelecesse a 8º por causa de uma suposta variação do ponto vernal§), que ocorre por volta de 21 de março. A partir desse ponto, o zodíaco é dividido em signos como Áries, Touro, Gêmeos, Câncer, Leão, Virgem, Libra, Escorpião, Sagitário, Capricórnio, Aquário e Peixes. Estas são as posições utilizadas pela astrologia ocidental e sua criação pode ser rastreada até a Grécia Antiga no século 5 a.C, até Euctemon§.
Desde a Babilônia, o primeiro povo a descobrir e desenvolver astrologia, podemos encontrar em achados arqueológicos que não havia a prática da astrologia tropical, pois não consideravam apenas uma divisão de 30º em um círculo de 360°, subordinados às estações do ano no hemisfério Norte, as posições de signos sempre estiveram conectadas às constelações. Através de achados arqueológicos de cartas de reis assírios, como Esaharddon e seu filho Assurbanibal, que datam de por volta de 580-650 a.C., vemos eles se referirem às posições das constelações, diferente do zodíaco divulgado no mundo grego, que perdura em nossa cultura§.
Embora não seja o inventor, Cláudio Ptolomeu foi o grande divulgador do modelo de zodíaco tropical através da publicação da sua famosa obra “Almagesto” no século II. A obra, escrita em grego, adota o modelo geocêntrico para o sistema solar, além de conter um extenso catálogo estelar. É um dos textos astrológicos mais influentes de todos os tempos, tendo sido autoridade no assunto desde a Antiguidade, no império bizantino, no mundo árabe e na Europa ocidental ao longo da idade Média e Renascença até o século XVI, quando é confrontada pelas descobertas de Copérnico. Mesmo que o livro tenha abertamente adotado o tropicalismo, ele também possuía diversas citações a Hiparco, uma figura central para o desenvolvimento do zodíaco sideral, além de até hoje ser a principal fonte de informação sobre sua obra, já que esta se perdeu pela História.
Precessão Dos Equinócios
Por volta de 129 a.C., o astrônomo grego Hiparco de Alexandria, percebeu certas incongruências entre as posições calculadas na ponta do lápis com observações reais das posições durante a observação dos astros. Hiparco acabava de descobrir a precessão dos equinócios, um dos vários movimentos que hoje sabemos que a Terra realiza, como um pião, inclinando para os lados. Este é um movimento bem lento, o que a faria completar uma volta apenas a cada 26.000 anos em torno do eixo de sua eclíptica.
O nome que recebeu se refere a capacidade deste movimento antecipar ou preceder os equinócios. O equinócio é o momento em que o Sol, em seu movimento anual aparente, corta o equador celeste, fazendo com que o dia e a noite tenham igual duração. Isaac Newton, mais tarde, defendeu o atual consenso de que a precessão ocorre por causa da influência gravitacional do Sol, da Lua, e de outros planetas, inclinando a Terra.
Teorias de precessão e trepidação também chegaram à Índia, já que a observação do deslocamento dos pontos equinociais deixou vários astrólogos perplexos em busca de respostas. Bhaskara afirmou em seu comentário sobre um texto astronômico de Aryabhata:
“Aqui, os romanos, que não conhecem o propósito final, leem: ‘Os sábios dizem que um solstício começa a partir do início de Danishtha e outro no meio de Ashlesha, enquanto é observado hoje que eles começam a partir do início de Capricórnio e Câncer. Como isso pode acontecer sem ter havido um movimento?” – Tradução livre do comentário de Bhaskara ao livro ‘Aryabatiya’ do astrônomo Aryabatha, como é citado por David Pingree em “Precession and Trepidation in Indian Astronomy Before A.D. 1200,” 180.
Para quem não está acostumado com os termos, o solstício e equinócio são eventos astronômicos que marcam o início de cada uma das quatro estações do ano. Os solstícios marcam o início do verão e do inverno, já os equinócios inauguram a primavera e o outono. A observação do deslocamento equinocial levou os indianos a incorporar a precessão em seus sistemas de cálculo astronômico. Porém, vale salientar, que isto não quer dizer que as teorias iniciais deste movimento eram semelhantes as noções modernas ou ocidentais, alguns autores expõem que outras hipóteses foram tentadas inicialmente em diferentes tratados. O resultado é que a maioria dos astrólogos védicos hoje utilizam um zodíaco sideral que mantém uma relação fixa com as estrelas ao longo do tempo, em contraste com a relação fixa do zodíaco tropical (sayana).
Simplificando O Ayanamsha
Imagine que você está em um quarto amplo de sua casa, onde há um guarda-roupa, uma cama, um abajur e uma escrivaninha, este é o local que você sempre descansa seu corpo. A cabeceira da cama está na parede oposta ao guarda-roupa. Ele possui cerca de 2 metros de altura, quando você se aconchega na cama para dormir de barriga para cima geralmente não perde muito a percepção do tamanho inicial deste guarda-roupa. Agora, digamos que um dia você se assenta no chão ao lado da cama e a frente vê o seu guarda-roupa, você perceberá que sua percepção sobre ele mudou muito, agora você o vê como um grande móvel se comparado ao seu corpo, e antes as rachaduras e porosidades da parede que não eram tão visíveis agora estão escancaradas, e a umidade dela toca suas costas.
Como percebemos, ainda que os objetos sejam os mesmos, a referência de onde se encontra o observador pode alterar e muito a posição relativa dos objetos. O espaço é da mesma forma, podemos calcular cada um dos planetas a partir de uma posição diferente, mas tudo no espaço está sempre se movendo, então restam poucas opções fixas para termos onde nos segurar em meio a tanto movimento. Para isto utilizamos as estrelas fixas, que são estrelas que se movem menos.
O Que É Ayanamsha?
O ayanamsha é um valor numérico contado a partir do nosso de ponto de referência fixo no espaço, geralmente uma estrela-guia (também chamada de estrela fiduciária), por onde olharemos o nosso mapa védico, este valor subtrairá as efemérides em formato tropical e nos dará a posição sideral que utilizaremos, isto afetará os graus dos planetas, especialmente aqueles no início e no final de um signo, podendo modificar a casa e o nakshatra que se encontram. Este valor também modifica em grande parte ferramentas da astrologia natal, tais como os dashas e mapas divisionais.
Evidências Das Duas Linhagens
“Que o divino Tvashta, o hábil artífice, o destro, o possuidor de riqueza, o observador da verdade, nos conceda ajuda; Rhibus [as carruagens dos cavalos de Ashwini§] junto a Pushan nos alegram, pois eles, com pedras erguidas dão início à libação sagrada.” – Rig Veda 3.54.12
Em teoria, qualquer estrela fixa pode ser usada como referência para estabelecer o ponto vernal, desde que sua posição no céu seja conhecida com precisão. No entanto, é importante destacar que, ao longo da história, diferentes estrelas fixas foram usadas em diferentes culturas e sistemas astronômicos. Na história da Índia, vemos o uso de duas estrelas fixas: Revati e Chitra.
Por um motivo simples, ambas são muito próximas de possíveis posições que seriam úteis para encontrarmos o início ponto vernal (geralmente considerado no eixo de Áries e Libra), Revati está mais próxima a 0º de Áries, enquanto Chitra estaria próxima a 0º de Libra (180º de Áries). Outros povos utilizaram outras estrelas guias, tais como Regulus (Alpha Leonis) e Aldebaran (Alpha Tauri, usado pelos Babilônios).
Perceber como isso ocorre nos textos clássicos não é uma tarefa simples, uma vez que frequentemente somos apresentados a citações parciais desses textos, o que nos dá a impressão de que todos os autores são contemporâneos e sempre estão em total acordo. Contudo, essa impressão é enganosa, uma vez que autores clássicos de diferentes épocas aplicam variações das mesmas técnicas. É importante ressaltar que, até os dias atuais, astrólogos védicos podem empregar diferentes técnicas e obter excelentes resultados.
Observe que Jaimini, escritor do Jaimini Upadesha Sutras, teria vivido entre 250 a.C. e 50 d.C., e seus seguidores teriam feito inclusive acréscimos as suas técnicas no tratado de Parashara§, Varahamihira seria do século V d.C. e Mantreswara do século XIII. Existem séculos de diferença entre esses astrólogos notáveis, e nós sabemos por evidências internas do texto que eles não estão em pleno acordo sobre tudo.
Para Jaimini, discípulo de Veda Vyasa, filho de Parashara, nossa profissão viria das casas 1 e 5 do ascendente do Navamsha (swamsha)§, já para Mantreswara em Phaladeepika é sobre “o regente do Navamsha ocupado pelo regente da décima casa à partir do ascendente, Sol ou Lua, quem deles tiver mais força”§. Tratados que remontam técnicas antigas, como o de Parashara, não sugerem o uso do Dasha Lagna para interpretação do Vimshottari Dasha e o colocam como principal forma de previsão do futuro na Kali Yuga. Já outros tratados medievais, como o Phaladeepika, estabelecem este uso.
O ponto vernal (ponto áries ou ponto gama), que mencionaremos bastante neste artigo, é um ponto do equador celeste, ocupado pelo Sol no equinócio de primavera do hemisfério norte, isto é quando o Sol cruza o equador vindo do hemisfério sul (geralmente em 22 de março de cada ano). Com o passar dos séculos, a posição do Sol no equinócio de março, vista por um observador na Terra, parece mudar devido ao movimento da precessão.
Os astrólogos mais antigos, conforme vemos evidências no Sri Surya Siddhanta, parecem utilizar Revati como referência da localização do ponto vernal, pois as coordenadas informadas na tabela de nakshatras do livro são praticamente as mesmas de Hiparco, com pouca variação e inclusive com a mesma coordenada de α Arie (Aswini)§, já os astrólogos medievalistas passaram a utilizar Chitra à partir do início da Idade Medieval da Índia, e adaptaram técnicas antigas às suas novas descobertas.
Hoje em dia, calcular mapas astrológicos é uma tarefa bem mais fácil do que era antes da informatização da astrologia, ocorrida no final do século passado, onde o astrólogo precisava consultar os almanaques de efemérides e aplicar as fórmulas dos siddhantas para encontrar as posições dos planetas, porém hoje o processo se tornou bastante simples graças a diversos aplicativos e softwares de astrologia védica. Por outro lado, isso também fez com que muitos profissionais simplesmente passassem a não ter ideia de como este cálculo é realizado, com exceção daqueles que se dedicam à árdua tarefa de programar programas e aplicativos.
Sri Surya Siddhanta
“Esta ciência suprema foi assim recebida através da corrente de sucessão discipular, e os reis santos compreenderam-na desta maneira. Porém, com o passar do tempo, a sucessão foi interrompida, e portanto a ciência como ela é parece ter-se perdido.” – Bhagavad Gita 4:2
O Surya Siddhanta é o principal tratado da astrologia védica a descrever as regras de cálculo de diferentes planetas. O livro teria sido revelado pelo próprio Senhor Surya (líder dos nove corpos celestes) na Antiguidade ao demônio Maya, após este ser ter realizado diversas penitências para saber os segredos por trás do funcionamento da criação no final da Satya Yuga. Os persas acreditavam ter sido escrito por Latadeva, discípulo de Bhaskara I§, já outros autores afirmam que ele teria sido escrito por volta de 200 a.C.§ e que foi alterado entre 600 a 1000 d.C.§ Algumas fontes dizem que o Pancha Siddhantika de Varaha Mihira possuiria referências ao texto original, sendo até mesmo chamado de “velho Surya Siddhanta” por estudiosos.§.
O historiador especializado em astronomia clássica, o P.H.D. Raymond Mercier da Universidade de Cambridge, na segunda parte da sua publicação “Studies in the Medieval Conception of Precession” (1977) demonstrou que todas as antigas obras astronômicas gregas e árabes sideralistas medievais localizaram o ponto zero da eclíptica em algum lugar entre 10 e 22 minutos de arco a leste da estrela Zeta Piscium, assim como também no caso do famoso e bem reputado tratado de ganita, o Sri Surya Siddhanta (SSS). Ele opina que essa definição remonta à influência ao grande astrônomo grego Hiparco.
Mercier ressalta que, de acordo com o catálogo estelar de Hiparco, as estrelas Alfa Arietis, Beta Arietis, Zeta Piscium e Spica estão em uma alinhamento muito preciso em um grande círculo que passa por aquele ponto zero perto de Zeta Piscium. Além disso, esse grande círculo era idêntico ao horizonte uma vez por dia na latitude geográfica de Hiparco, que estava em 36°.
Em outras palavras, o ponto zero surgia ao mesmo tempo em que as três estrelas mencionadas em Áries e Peixes surgiam e quando Spica se punha. Mercier também observa que, no Surya Siddhanta, a estrela Zeta Piscium tem praticamente a mesma posição que no zodíaco sideral grego, ou seja, 29°50′ em Peixes e que praticamente todas posições dos nakshastras do Sri Surya Siddhanta se tornam compatíveis quando colocamos Revati como referência, menos Spica, que iria para o meio do nakshatra a 180º, no signo de Libra, sugerindo revisões interpoladas de medievalistas no texto.
Esta alta compatibilidade responde porque a técnica de previsão do Vimshottari Dasha, que é totalmente baseado em nakshatras, possui uma altíssima performance em ayanamshas baseados em Revati, mesmo sem o uso da inovação tardia do Dasha Lagna (que seria colocar o planeta regente do Mahadasha como um ascendente para interpretá-lo).
Sabemos sobre Chitra porque no Pancha Siddhantika, o astrólogo medieval Varaha Mihira pede para deduzirmos o calendário do Ano Saka de 427 (505 d.C no Calendário Gregoriano) à partir do mês de Chaitra (março, no Nija Chaitra), na metade clara do mês (shukla paksha), em uma terça-feira ou segunda-feira (tradutores diferentes divergem sobre qual o dia da semana), a única data a ter todas essas configurações exatas seria no dia 24 de Março de 505, o que só é possível quando se estabelece Chitra como referência§. Esta também é, na verdade, uma estrela muito brilhante, que está tanto em um posição próxima a oposição do ponto vernal, como possui uma magnitude aparente alta, que tornaria fácil e bastante óbvio utilizá-la.
O que deixa claro para nós que existiram excelentes astrólogos, como estes gigantes da Jyotisha, que utilizavam diferentes referências de ayanamsha, e que mesmo assim conquistaram excelentes resultados.
Simbolismo Astrológico
- Revati (Zeta Piscium) é uma estrela associada à emancipação final, à espiritualidade, ao amor igualitário a todos os seres deste universo. Seu nome foi dado em homenagem a Revati, concunhada de Krishna, uma deusa responsável por aniquilar o demônio Dirgajihvi e muitos outros, que atacaram os semideuses. Pushan, divindade dessa região é responsável por proteger a todos que estão passando por este mundo, ele é quem conduz as almas aos pastos verdejantes (Revati é muitas vezes traduzido como ‘o próspero’), aquele que dirige o Sol e determina seu curso pelo céu. Ao exercer seu papel, ele protege, alerta e desvia as pessoas de todos os perigos, uma das atribuições dos astrólogos. Ele é familiarizado com o caminho entre os céus e a terra. Pushan é o mensageiro de Surya, que inspirou o maior de todos os almanaques astronômicos da Índia védica, o chamado Sri Surya Siddhanta.
- Chitra (Spica) é uma joia brilhante no espaço, onde seu brilho (magnitude aparente) é facilmente percebido por qualquer um, na região onde o Sri Surya Siddhanta diz ser “onde o Sol se torna visível aos demônios”§. Sua divindade é Vishwakarma ou Tvashta, um artesão, que dá a forma ilusória a este mundo, ele é quem construiu as carruagens e as armas dos deuses, e que para se vingar da morte de seu filho, cometida por Indra (rei dos semideuses), criou um demônio capaz de destruir toda a criação: Vritrasura, que assim foi chamado “porque ele é aquele que encobre (ou esconde) todos os sistemas planetários” (Bhagavata Purana, Canto 6, Capítulo 9, verso 18). Porém, como Chitra é uma estrela facilmente notada do outro lado brilhante da eclíptica já era esperado que muitos astrólogos iriam utilizá-la como estrela fiduciária.
Não existe nenhuma menção de linhagem ou escritura de astrologia védica que realmente faça o uso de um centro galáctico ou semelhante, logo, o uso dele incorre na possibilidade de incompatibilidade total com uma série de métodos desenvolvidos pelos sábios para astrologia natal, e isto talvez, sugira a necessidade de uma adaptação, tal como historicamente foi desenvolvido na idade medieval da Índia para a linhagem de Chitra que se estabeleceu no período medieval.
No entanto, é importante mencionar que a astronomia secular de hoje, com o avanço da tecnologia e a compreensão da natureza dinâmica do universo não utiliza mais estrelas fixas para calcular o ponto vernal ou a precessão dos equinócios, mas quasares distantes e outros objetos celestes, até mesmo imperceptíveis a olho nu, porém mais estáveis em relação ao movimento geral do universo.
É encorajado que os alunos utilizem os ayanamshas das suas escolas de astrologia védica, mantendo sua sucessão discipular, e que os consulentes aceitem a metodologia utilizada pelos seus astrólogos, pois estes profissionais apenas conseguem garantir melhores resultados nos sistemas de astrologia com que possuem algum nível de afinidade.
Lista De Ayanamshas
Esta lista abaixo possui uma grande quantidade de ayanamshas comumente utilizados hoje, mas com certeza, seria impossível mencionar todos os existentes, pois dentro das mesmas linhas de pensamentos encontraremos variações. No Brasil, hoje os mais utilizados são: Lahiri Chitrapaksha, Kërr e Galaxy 0º Center.
O inventor do Jagganatha Hora (software de astrologia védica mais utilizado do Brasil), o engenheiro da computação e astrólogo védico P.V.R. Narasimha Rao, estabeleceu um ayanamsha próprio baseado em Pushya (porção do signo de Câncer). O grande astrólogo B.V. Raman também criou outro ayanamsha baseado em Chitra, alternativo ao de Lahiri. Como é nítido, não há consenso sobre isto.
Geralmente, os softwares profissionais permitem escolher dentre diversos tipos de ayanamshas em sua lista de configurações, enquanto aplicativos para o público indiano possuem menos opções disponíveis e são limitados pelas regras governamentais, que conheceremos mais adiante.
Baseados em Revati (Zeta Piscium)
- True Revati
- Usha Shashi
- Hiparco
- Sri Yukteshwar
- Kërr A.I.
Baseados em Chitra (Spica)
- Lahiri Chitrapaksha
- Lahiri Tradicional
- Raman
- Krishnamurti Paddhati (KP)
Outros
- Pushya Paksha (Câncer)
- Dhruva Galactic Center Middle Mula
- Galaxy 0º Center
História do Lahiri
O Lahiri Tradicional é um ayanamsha desenvolvido na década de 1950, que ganhou este nome em homenagem ao secretário que presidiu a reunião do Comitê de Reforma do Calendário Indiano, N. C. Lahiri. Sim, este ayanamsha não surgiu no período védico, mas veio de uma “canetada estatal” para padronizar o calendário de festivais da Índia (Panchang), pois haviam pelo menos 30. O Lahiri é um ayanamsha de Chitra, colocado a 180° do Zodíaco, para que faça uma oposição perfeita a Áries no ponto vernal, como é sugerido no Grahalaghava, tratado do século XVI.
O primeiro-ministro da Índia Jawaharlal Nehru, que era auto professado ateu e não confessava nenhum apego às tradições védicas, pois era um socialista e materialista clássico §, queria estabelecer um calendário único em toda a Índia, já que em cada uma das regiões, havia uma diferença de calendários (Panchang) para celebrar os diversos festivais religiosos do país. Não sendo um astrólogo, decidiu convocar o chamado Comitê de Reforma do Calendário.
Quando este foi estabelecido, não houve nenhuma consideração se este era realmente o sistema utilizado pelos astrólogos védicos clássicos na leitura de mapas astrológicos de pessoas, esta era uma forma de politicamente mostrar a unificação da Índia liberta da colonização britânica, organizar a arrecadação na administração pública, fortalecer a identidade nacional, aproximar a Índia do pensamento materialista e diminuir a enorme circulação de pessoas em festivais que se repetiam em diferentes calendários.
A comissão foi convocada em Novembro de 1952, quando o Sol, indicador do governo, estava debilitado; Mercúrio, responsável pela capacidade de cálculo, estava cortado por maléficos ou combusto; e, Rahu se encontrava em Capricórnio, um dos signos que afetam a história da Índia junto a Câncer.
Durante uma sequência de reuniões que duraram anos, ficou estabelecido que seria utilizado um calendário solar da Saka Era, remontando um calendário hindu que existiu por volta do ano 78 com certas inovações modernas, na tentativa de que a Índia fosse unificada através de valores materialistas e símbolos nacionais. Como encontramos no documento disponibilizado pelo governo indiano, na página 16, Dr. Gorakh Prasada propôs que fosse estabelecido um ayanamsha à partir de Chitra (Spica), provavelmente por se tratar de uma estrela brilhante de fácil localização durante o cálculo, porém, devemos lembrar que mesmo diferentes siddhantas (como o Brahmagupta, Pitamaha, Sekhara, Shiromani e o Graha Laghava) dão diferentes localizações para Chitra, colocando-a sempre em Libra, mas variando em até 3 graus a sua localização, enquanto outros apontam para o ponto zero de Libra, como é considerado no Lahiri.
Mais tarde, 12 anos depois, N.C. Lahiri corrigiu publicamente os cálculos e lançou o seu almanaque, onde foi criado o Lahiri Chitrapaksha, atualmente o ayanamsha de Chitra mais utilizado no mundo. Por isso, a grande maioria dos softwares e aplicativos, desenvolvidos em território indiano e subordinado às suas leis, utilizam em grande parte o Lahiri Chitrapaksha, porém, este assunto está longe de ser um consenso dentro da comunidade astrológica. Existem diferentes ayanamshas até hoje e esta é uma área de intensa pesquisa, que se encontra ainda sem uma resolução única nestes últimos anos.
Conclusão
Em conclusão, a astrologia védica e a astrologia ocidental diferem em relação ao zodíaco utilizado, porém mesmos os astrólogos védicos podem ter diferenças internas quando vão utilizar o chamado zodíaco sideral, devido as estrelas fixas utilizadas na referência de cálculo do ayanamsha, variando de acordo com sua escola de pensamento e linhagem. Também descobrimos que qualquer aparente consenso é falso, pois toda estrela-guia possui seus prós e contras a serem considerados, mas podemos perceber uma tradição do uso das estrelas de Revati (Zeta Piscium) e Chitra (Spica) para estabelecermos o ponto vernal, enquanto astrólogos védicos mais próximos de Parashara e Jaimini, parecem utilizar Revati, a Idade Medieval da Índia trouxe o uso de Chitra. Cabe a cada um de nós escolhermos o sistema com o qual mais nos identificamos, que melhor ressoamos e com o qual temos melhores resultados. Em boas mãos, ambos os sistemas podem oferecer insights valiosos e orientações pessoais quando utilizados adequadamente. Sintam-se livres para testar.